Movimento

Fecho, abro a mão. Fecho, abro a mão. Fecho, seguro firme, amarram uma espécie de elástico no meu braço, ele aperta e dói. Agora posso abrir a mão outra vez.
A voz diz que não vai doer. Não é tão rápido quanto falam. Sinto a agulha entrando na minha pele. Dizem que ela tem várias camadas. Parece que sinto a agulha tocando cada uma delas e perfura a veia. Dói sim.
Flui o sangue, é lindo. Forte, vermelho escuro, intenso. Aquele jato fino vai enchendo com força o frasco. A vida corre. Outro frasco? Humm... Não gostei. Mais um, no frasco estava escrito PCR, não sei pra que serve isso, mas deve ser importante. Será preciso quantos? Já estamos no quarto e não para. Esse eu conheço, um tal de T4, minha mãe sempre precisa fazer esse, ela tem hipotireoidismo. A enfermeira coloca mais um, ela conversa sobre o dia dela com a amiga sem nem se importar de eu estar ali com meu sangue jorrando. O sangue já não está tão forte nesse frasco, parece que já está cansado do serviço, será que está acabando? Ela deve ter tirado todo o sangue que eu tinha. — É o último, ela avisa. Fico feliz, nunca imaginei que conseguiriam tirar oito tubos de sangue de mim e ainda permanecer vivo. Parece um menu de sangue para ser servido no jantar.
Ela tira a agulha, remove o elástico e meu braço relaxa. Coloca um algodão para segurar o resto de sangue que ainda queira sair. É um aviso para ele de que fez um bom trabalho.
— Pronto, não doeu nada, diz ela.
Ah... Se ela soubesse.

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